Artigo: Wylli boy e o carpe diem

Compartilhe esta notícia:

Por: Prof. Sergio A. Sant’Anna*

Meu avô partiu ao final do mês de setembro, em um dia 28, mesmo mês que meu pai falecera há dois anos. Há quatro dias do seu falecimento, os parabéns eram dados para minha irmã em seu aniversário de um pouco mais de três décadas. Faço essa alusão para demonstrar o que já conhecemos e não valorizamos…A vida é breve, merece ser vivida, aproveitada. O pleonasmo é cabal: a vida foi feita para se viver!

Em 1993 estava em Lençóis Paulista para a final do campeonato paulista de xadrez escolar, sob a regência do professor de Educação Física Sérgio Lacativa, juntamente com a equipe de basquete da Escola Nove de Julho. Lembro-me nitidamente dos alunos da equipe da escola taquaritinguense referindo-se de maneira carinhosa ao meu avô: “Wylli Boy”, um garoto, sempre sorridente, disposto, brincalhão. Era assim que ele procurava ser. Gostava de aconselhar, mas de maneira discreta. Era querido. Aquele apelido me marcou.

Quando comecei a dar aulas, meu avô já havia se aposentado do serviço público há quase dez anos, porém sempre procurou me orientar e a me indicar as pessoas as quais poderia contar, ele estava certo. Decepcionei-me com alguns, porém jamais ele fora capaz de adjetivar negativamente este ou aquele. Era como aquela história que sempre procuro ilustrar minhas aulas de Redação quando falo da diferença entre Ética e Moral: “Certa vez dois jovens roubaram um pedaço de pão no deserto para alimentar a fome, foi quando o dono do estabelecimento partiu para capturar os jovens e encontrou Maomé. Ao perguntar ao sábio, o mesmo havia mudado de lugar e os jovens por ali passaram, todavia o sábio ao ser interrogado afirmou, ‘Enquanto estou deste lado, nenhum jovem por aqui passou…”. Meu avó era favorável à Ética. Clamava por justiça. Ajudara aos pobres.

Foi capaz de manter a serenidade em meio às opiniões distintas da dele num ambiente hostil, que é a política. Nunca escondeu seu amor pelo Partido dos Trabalhadores, empunhou a bandeira da justiça social, criticou os caciques quando os trilhos eram interrompidos, e foi um daqueles que acreditou num País coeso, sem fome, sem miséria, sem mortes, sem agressividade. Para o descendente de italianos, a rivalidade político-partidária tinha que ser apenas no debate, no campo das ideias, da argumentação. Nada de brigas ou qualquer forma de agressão. Esses dias minha filha mais velha me indagara sobre a quantidade de bandeiras do Brasil pelas casas aqui em Santa Catarina, e que poucas eram as residências com o vermelho do Partido dos Trabalhadores estampado, disse a ela que em uma época não tão distante, a liberdade de ideias era respeitada, o meu avô em 1989 colocou uma bandeira enorme com o rosto do Lula na sua residência em meio àquela onda verde-amarela do Collor, e em 2002 repetiu o mesmo gesto. Nunca fomos agredidos, nunca fora desrespeitado, apenas uma discussão de pensamento, reflexões e propostas. Contudo, isto é passado…

Confesso que os tempos estão sendo transformados, os ideais estão sendo surrupiadas, apagadas pelo caos que insiste em prosseguir, todavia a luminosidade, o carisma e o amor pelo semelhante que meu avô nos passara está sendo transmitido, e não seremos insanos, muito menos agiremos com falta de ética diante dos demais seres humanos, só para fazer o meu pensamento prosperar. Zelaremos pelo respeito à diversidade de posições e opiniões, todavia não concordaremos com a injustiça, com a ignorância e a violência. Meu grande avô, seu legado jamais se extinguirá. Continue a ser este menino, porque a luz voltará a brilhar…

*Prof. Sergio A. Sant’Anna – Professor de Redação nas Redes Adventista e COC em SC e jornalista.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

Compartilhe esta notícia: